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ASAA
Alencar AAR, Plácido TGQ, Silva GC, Silva AVT, Valença MA, Valença MM, Andrade JR
Fatores preditivos na escolha da especialidade na residência médica
O desejo de fazer residência no mesmo estado em que
cursam Medicina foi citado por 139/232 (59,9%) e sobre
o momento em que desejam fazer a residência médica,
195/232 (84,1%) participantes responderam que pretendem
fazer a residência assim que nalizarem a graduação em
Medicina.
Sobre a pretensão em ter lhos, 184/232 (79,3%) desejam
ter lhos (média de dois lhos cada, a quantidade de lhos
pretendida foi entre 1 e 5), 13/232 (5,6%) não sabem e
35/232 (15,1%) armam não pretender ter lhos no futuro.
Fatores influentes na escolha da especialidade médica
As variáveis sexo, tipo de instituição de ensino superior (IES),
retorno nanceiro, continuar no estado de origem da forma-
ção, parentesco médico e pretensão de ter lhos são signi-
cativas (F=2,8414 e p=0,008) na escolha da especialidade
da residência médica. Apesar do conjunto de variáveis ser
signicativo em relação à especialidade escolhida, a análise
StepWise
indicou “parentesco com médicos” a variáveis com
maior percentual (5,8%) de explicação (Tabela 3).
Tabela 3. Poder de explicação das sete variáveis independentes
sobre a decisão da escolha da especialidade médica (variável de-
pendente) pela análise de regressão linear Passo-a-Passo (
StepWise
).
Variável dependente (Y): Variáveis
independentes
R2 GL F P
Y: 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 8,16% 7. 230 2,841 0,008
Y: 2, 3, 4, 5, 6, 7 7,96 % 6.230 3,244 0,005
Y: 2, 3, 4, 6, 7 7,96% 5.230 3,907 0,002
Y: 2, 3, 6, 7 7,94 % 4.230 4,896 0,001
Y: 2, 6, 7 7,91% 3.230 6,530 0,001
Y: 6, 7 7,58% 2.230 9,396 0,001
Y: 7 5,80% 1.230 14,167 0,001
2-sexo,
3-tipo de instituição de ensino superior (IES),
4- período,
5- retorno nanceiro,
6- continuar no estado de origem da formação,
7- parentesco médico,
8- pretensão de ter lhos
Discussão
Sexo, tipo de IES, retorno nanceiro, intenção de realizar
residência no mesmo estado de formação, parentesco médico
e pretensão de ter lhos são fatores preditivos signicativos
na escolha da especialidade da residência médica, sendo
“parentesco com médicos” a variável com maior percentual
(5,8%) de explicação.
Dentre as especialidades médicas escolhidas, destacam-se
a Cirurgia Geral, Ginecologia e Obstetrícia, Anestesiologia,
Medicina de Família e Comunidade e Neurologia. Dados de
2018 apontam resultados diferentes dos que encontramos,
armando que 40% dos médicos especialistas possuíam
residência médica em Cirurgia Geral, Ginecologia e Ob-
stetrícia, Clínica Médica e Pediatria.
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Essa diferença ocorre
provavelmente devido ao limitado número de estudantes que
responderam à pesquisa, e à crescente popularização da
residência de Medicina de Família e Comunidade dentre os
estudantes selecionados, que é uma residência especialista
em Atenção Primária, fundamental para o funcionamento do
Sistema de Saúde.
13,14
Isso coloca o Brasil em alinhamento
a países desenvolvidos, como Holanda, Canadá, Espanha e
Inglaterra, onde o médico da família e comunidade recebe
o reconhecimento da sociedade e de toda a comunidade
médica pela sua importância, especialmente pelo cuidado
focado no indivíduo em seu contexto biopsicossocial, levando
em conta sua comunidade, família e cultura(16). Entretanto,
nossa pesquisa encontrou dados discordantes com as pesqui-
sas que indicam que essa residência seja a última opção
entre os estudantes.
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A Anestesiologia se destaca não só em terceira especiali-
dade mais escolhida, mas como a segunda onde o retorno
nanceiro esperado é mais inuente. A Oftalmologia merece
destaque como a especialidade menos escolhida, dentre as
selecionadas, mas contraditoriamente a que mais possui
inuência de retorno nanceiro esperado e expectativa de
qualidade de vida. Segundo alguns pesquisadores, isso
provavelmente acontece porque a disciplina de Oftalmologia
não é bem trabalhada durante a graduação
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, e os estu-
dantes acabam por escolher essa especialização com foco
em qualidade de vida e retorno nanceiro em detrimento de
aptidões pessoais motivadas por questões intrínsecas.
As especialidades de Cirurgia Pediátrica, Dermatologia,
Pediatria, Medicina de Família e Comunidade e Ortopedia
apresentaram alta inuência do sexo na escolha, sendo que
as quatro primeiras tiveram apenas uma escolha masculina,
e a última, apenas uma feminina. Este é um reexo direto
de estereótipos sexistas, principalmente na graduação e
residência, que faz com que mulheres encontrem barreiras
que as deixem em situação de desigualdade com os homens,
limitando, então, o processo de escolha de uma residência
médica.
16-19
Novas pesquisas são necessárias para desvendar as questões
que envolvem o processo de escolha do local de uma residên-
cia médica entre alunos de instituições de ensino privadas e
públicas, e melhor compreender, com populações e métodos
diferentes, as questões que envolvem a escolha de uma espe-
cialidade médica no Brasil.