2021, 3(2):1-5 e-ISSN: 2674-7103
1
DOI: 10.37085/jmmv3.n2.2021.pp.1-5
Jornal Memorial
da
Medicina
© Copyright 2021
Original
Medicina Clínica/Epidemiologia
Associação de fatores de risco entre sílis em gestante e congênita:
estudo observacional retrospectivo
Association of risk factors between syphilis in pregnant and congenital: retrospective observational
study
Osvaldo Leite Santos
1
, Ruanna Sandrelly de Miranda Alves
2
, Erlene Roberta Ribeiro dos Santos
3
,
Antonio Flaudiano Bem Leite
4
1
Sanitarista - Bacharel em Saúde Coletiva/CAV/UFPE, Vitória de Santo Antão, Pernambuco, Brasil
2
Especialista em Saúde Coletiva, Prossional do Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde -
EpiSUS Avançado, 16°turma/CGEMSP/DSASTE/SVS/MS, Brasília, Distrito Federal, Brasil
3
Professor do Departamento de Saúde coletiva do Centro Acadêmico da Universidade Federal de Pernambuco, Vitória de Santo Antão, Pernambuco,
Brasil
4
Secretaria Municipal de Saúde de Vitória de Santo Antão, Pernambuco, Brasil
Resumo
O objetivo desse estudo é associar fatores de riscos os casos de sílis em gestantes a ocorrência
de sílis congênita. É um estudo observacional descritivo de base populacional de casos de
sílis em gestante e congênita registrado no período de 2007 a 2017 em um município de
Pernambuco. A fonte de dado principal foi o Sistema de Informação de Agravos de Noticação
(Sinan), que registrou 230 casos. Foram analisados 167 casos em gestante com evolução para
caso de sílis congênita sendo 54,5% residentes no município . Observou-se uma incidência
média de 15,1 casos por ano. A faixa etária menor de 20 anos concentrou 62,9 de casos de
sílis em gestantes; 79,64% se declaram ser de cor preta ou parda, 45,5% tinham menos de 8
anos de estudo; 39,5% realizaram mais de 7 consultas de pré-natal durante a gestação, com
a detecção da sílis materna no 3º trimestre da gravidez para 38,32%. Um baixo percentual
de tratamento parceiro (12,0%). Este foi um importante achado, porém, preocupante, pois
não houve diferença signicativa entre as variáveis analisa das considerando que a acom-
panhamento, a detecção sílis, o tratamento concomitante dos parceiros é essencial para um
indicativo de um pré-natal de qualidade fragilizado.
Abstract
The aim of this study is to associate risk factors related to the case of syphilis in pregnant women
with the occurrence of congenital syphilis. It is a descriptive observational population-based
study of syphilis cases in pregnant and congenital women recorded from 2007 to 2017 in a
municipality in Pernambuco. The main data source was the Notiable Diseases Information
System (Sinan), which registered 230 cases. A total of 167 cases in pregnant women with
evolution to congenital syphilis were chosen to be analyzed, with 54.5% residing in the city. An
average incidence of 15.1 cases per year was observed. The under 20 age group concentrated
62.9 cases of syphilis in pregnant women; 79.64% declare themselves to be black or brown,
45.5% had less than 8 years of education; 39.5% had more than 7 prenatal consultations
during pregnancy, with the detection of maternal syphilis in the 3rd trimester of pregnancy for
38.32%. A low percentage of partner treatment (12.0%). This was an important nding, however,
worrisome, as there was no signicant difference between the variables analyzed considering
that monitoring, detection of syphilis, and concomitant treatment of partners is essential for an
indication of fragile quality prenatal care.
Antonio Flaudiano Bem Leite, Rua
Henrique de Holanda, 774, Matriz,
Vitória de Santo Antão.
E-mail: afbl@outlook.com.br.
Editado por
Juliana Ramos Andrade
Palavras-chave:
Sílis congênita
Estudo de Caso-Controle
Epidemiologia
Saúde Coletiva
Keywords:
Congenital Syphilis
Retrospective Observational Study
Epidemiology
Public Health
Recebido: 15 de setembro de 2021
Aceito em: 29 de novembro de 2021
2
ASAA
Santos OL, Alves RSM, Santos ERR, Leite AFB
Associação de fatores de risco entre sífilis em gestante e congênita: estudo observacional retrospectivo
Introdução
A
sílis é uma doença infectocontagiosa sistêmica, de
evolução crônica. A infecção do feto ocorre através da
transmissão, por via placentária, do
Treponema pallidum
,
em qualquer período da gestação ou estágio clínico da
doença em gestante não tratada ou inadequadamente
tratada.
1
Mesmo com a inclusão de tecnologias no diagnóstico e
tratamento das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), a
sílis, em todas as suas formas, persiste como um problema
mundial de saúde pública.
2
Atenção Básica é a principal esfera de acesso de entrada
dessas parturientes na rede de serviço no qual está inserida, o
acompanhamento, treinamento técnico e multidisciplinar con-
tínuo desses prossionais contribuem na melhoria dos índices
do agravo viabilizando uma melhor adesão ao tratamento.
3
As principais manifestações clínicas ocasionadas pela sílis
congênita são: o baixo peso ao nascer, prematuridade,
restrição de crescimento intrauterino, icterícia, hepatoesple-
nomegalia, pêngo palmo-plantar, exantema maculopapular,
pneumonite, pseudoparalisia de membros, renite serosangui-
nolenta, entre outras manifestações.
4
Com a existência da oferta de diagnósticos sensíveis, trata-
mento ecaz e de baixo custo, o controle da sílis congênita
se a partir da garantia de uma assistência pré-natal ampla
e de qualidade.
5
A presença de sílis congênita em uma população é in-
dicadora da qualidade da assistência pré-natal ofertada
pelos serviços de saúde. Com isso, o acesso ao pré-natal é
determinado por fatores como renda, etnia, escolaridade e
localização, o que contribui para a exclusão de uma parcela
signicativa de gestantes.
6
A falta da oferta do VDL R, para parturientes como rotina nos
serviços de saúde acarreta em uma incidência continua do
agravo, expondo a falha no comprometimento de políticas
públicas dos órgãos de saúde com a população, prejudican-
do e agravando o tratamento da puérpera do recém-nascido
e do parceiro após o parto.
7
A inovação nas estratégias para o diagnóstico da sílis é
essencial e pode ser considerada como uns dos principais
fatores de sucesso na rede de apoio; para um diagnóstico
precoce de sílis nos três primeiros meses de gestação, no
qual o tratamento para o feto é mais efetivo na prevenção
da transmissão vertical da doença.
8
No Brasil, entre os anos de 2005 a 2016 foram noticados
159.000 casos de sílis em gestante, apresentando uma taxa
de detecção de 11,2 casos por mil nascidos vivos, sendo o
Nordeste a região em números de noticações com 21,7%
dos casos, atrás do Sudeste com 42,9%. Os casos noticados
de sílis congênita em menor de 1 ano de vida durante os
anos de 1998 a 2016 foram de 143.000 pessoas, dos quais
a região Nordeste ocupa 2º posição com 10% das notica-
ções e a região Sudeste em com 30,8% dos casos e uma
taxa de incidência de 6,5/1.000 nascidos vivos. É observada
a situação do Nordeste acima dessa média com uma taxa de
detecção de cerca de 6,9/1.000 nascidos vivos.
9,10
Em Pernambuco foram noticados entre os anos de 2005
a 2014 cerca de 4.718 casos de sílis em gestante. o
número de casos de sílis congênita no mesmo período foi
de 6.898 noticados, com uma taxa média de incidência
de 4,81/1.000 nascidos vivos. Estas evidências trazem para
o estado uma característica epidemiológica semelhante ao
território nacional, dadas suas proporções e características.
11
Em Vitória de Santo Antão–PE, a taxa de detecção de sílis
congênita aumentou de 2,9 casos por mil nascidos vivos em
2006 para 15,6 casos em 2017.
Assim a perspectiva desse estudo é associar fatores de riscos
relacionados aos casos de sílis em gestantes a ocorrência
de sílis congênita.
Métodos
Trata-se de um estudo observacional retrospectivo de base
populacional, realizado no município da Vitória de Santo
Antão - PE, Brasil, o qual possui 335,94 km
2
de área geo-
gráca e população estimada em 137.578 munícipios.
12
O
período de análise foi de 2007 a 2017. A fonte de dado
principal para captação os registros de noticações de sílis
em gestante e congênita foi o Sistema de Informação de
Agravos de Noticação (Sinan). Além deste, foi utilizado o
Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) para
complementar e qualicar a base de dados principal de
análise por meio de
linkage
manual caso a caso, e também
recuperados os registros de dados incompletos ou ausentes,
comuns aos dois bancos.
Após esse processamento (1º etapa), resultou um banco
de dados constituído de 230 casos de sílis em gestante,
formando o binômio mãe-lho, com variáveis desfecho e
explicativas. Após processamento da primeira etapa, foram
3
ASAA
Santos OL, Alves RSM, Santos ERR, Leite AFB
Associação de fatores de risco entre sífilis em gestante e congênita: estudo observacional retrospectivo
selecionadas as seguintes variáveis explicativas passíveis
de análise: faixa etária materna, raça e cor, escolaridade,
consulta pré-natal, idade gestacional de detecção da sílis,
evolução clínica, tratamento da gestante realizado e trata-
mento do parceiro realizado.
Todos os processamentos da primeira e segunda etapa foram
realizados em planilhas eletrônicas. Para os cálculos das
medidas estatísticas de frequências absolutas, proporções,
intervalo de conança a 95% (I.C.95%) e
odds ratio
(OR),
assim como os testes de hipótese clássicos de
qui-quadrado
de independência condicional de Mantel-Haenszel e Exato
Fisher, foram realizados no Epi Infoversão 7.2.2.6. Não
se inclui nos cálculos de estimativas de risco os dados de
ignorados e brancos.
O estudo segue as diretrizes e todos os preceitos éticos de
estudos com dados secundários obtidos de sistemas de infor-
mações cujas informações são agregadas, sem possibilidade
de identicação individual, de acordo com a Resolução do
Conselho Nacional de Saúde nº 510, de 07 de abril de
2016, parágrafo único inciso V.
Resultados
A partir da série histórica de registros de sílis em gestantes
em Vitória de Santo Antão no período de 2007 a 2017 foi
realizado um recorte de 230 casos. Na interoperacionali-
zação dos bancos, foram excluídos 55 casos não residentes
no município e mais 8 casos por não constar no banco do
Sinasc, provavelmente devido a evolução ter sido aborto ou
natimorto.167/230 eram residentes do munipio, destes 91
casos de lis congênita e 76 não casos de lis congênita
(Figura 1).
Figura 1 - Fluxograma da população de análise dos casos de sílis
em gestantes que decorreram ou não em casos de sílis congênita,
Vitória de Santo Antão, 2007-2017
O ano de 2017 apresentou a maior frequência (26,9%),
demonstrando uma forte e expressiva curva ascendente,
variando cerca de 1.550% no aumento das noticações
entre o inicial e nal da série histórica, assim como a taxa
de incidência aumentou 15 vezes, com um incremento de
1,67 casos por 100.000 ao ano (Figura 2).
Figura 2 - Distribuição de frequência dos números de casos de sílis
em gestantes. Residentes de Vitoria de Santo Antão, 2007-2017
Fonte: Elaborado pelos os autores baseado Sistema de Informação
de Agravos de Noticação (Sinan) e Sistema de Informações sobre
Nascidos Vivos (Sinasc)
Da amostra analisável (167 casos), vericou-se que 62,9%
das gestantes têm mais de 20 anos de idade; em relação
a raça/cor a maioria se declarou de cor preta ou parda
(79,6%); 45,5% tem menos de 8 anos de escolaridade e
19,8% tem mais de 8 anos de escolaridade. Com relação
ao número de consultas de pré-natal realizadas 35,3% ges-
tantes realizaram menos de 7 consultas de pré-natal e 39,5%
mais de 7 consultas; quanto a idade gestacional que houve
a detecção da sílis 23,4% foram diagnosticadas no 1º tri-
mestre de gestação, 29,9% no 2º trimestre e 38,3% apenas
no 3º trimestre.
Quanto a evolução clínica da doença 24,6% das noticações
possuíam a evolução clínica primária, 16,2% outras formas
de evolução e 59,3% dos registros em branco ou ignorados.
Quanto ao tratamento, percebe-se que (50,9%) das ges-
tantes realizaram o tratamento adequadamente e 45,5%
das noticações estavam ignoradas. Com relação ao trata-
mento realizado nos parceiros, apenas em 20 (12,0%) das
noticações houve a realização do tratamento e 67,7% dos
registros encontraram se em branco ou ignorados (Tabela 1).
Quando associado os casos de sílis em gestante com o des-
fecho de sílis congênita percebe-se que 54,49% dos casos
culminaram em sílis congênita. Com isso observa-se que
as mães que tiveram crianças com sílis congênita possuem
idade maior que 20 anos (56,2%), são da raça/cor preta e
parda (51,9 %) e com um grau de escolaridade abaixo de
8 anos de estudo (60,5%) (Tabela 2).
Ao associar o número de consultas realizadas no pré-natal
com sílis congênita percebe-se que 73,8% das noticações
estão como ignorados ou brancos e 50,8% dos casos de
4
ASAA
Santos OL, Alves RSM, Santos ERR, Leite AFB
Associação de fatores de risco entre sífilis em gestante e congênita: estudo observacional retrospectivo
sílis congênita diagnosticados as mães zeram menos que
7 consultas pré-natal.
A idade gestacional de detecção da sílis congênita mais
frequente foi o trimestre com 46,9% dos casos de noti-
cação. Com relação a evolução clínica mais presente nesses
casos 48,5% foram ignorados e a que apresentou maior
frequência entre os casos de sílis congênita foi a primária
(59,1%) (Tabela 2).
Tabela 1 - Distribuição de frequências de casos de sílis em ges-
tantes segundo variáveis sociodemográcos e clínico. Vitória de
Santo Antão, 2007 -2017.
Variáveis
socioeconômicas e clínicas
N %
I.C. 95%*
167
Caso de sífilis
Sim 91 54,5 46,9-62,2
Não 76 45,5 38,0-53,2
Faixa etária materna
Menor que 20 anos 62 37, 1 29,8-44,6
20 anos ou mais 105 62,9 55,5-70,3
Raça e cor
Branca e amarela 15 9,0 4,6-13,4
Preta e parda 133 79,6 73,5-85,9
Ignorado e branco 19 11,4 -
Escolaridade
> Que 8 anos de estudo 76 45,5 38,0-53,2
< Que 8 anos de estudo 33 19,8 13,7-25,9
Ignorado e branco 58 34,7 -
Consulta pre natal
- 7 consultas 59 35,3 28,1-42,7
+ 7 consultas 66 39,5 32,1-47,1
Ignorado e branco 42 25,1 -
Idade gestacional de detecção
1º trimestre 39 23,4 16,9-29,9
2º trimestre 50 29,9 23,0-37,0
3º trimestre 64 38,3 30,9-45,8
Ignorado e branco 14 8,4 -
Estágio da evolução clínica
Primaria 41 24,6 18,0-31,2
Outras formas 27 16,2 10,6-21,9
Ignorado e branco 99 59,3 -
Realização de tratamento da gestante
Sim 85 50,9 43,3-58,6
Não 6 3,6 0,8-6,5
Ignorado e branco 76 45,5 -
Realização de tratamento do parceiro
Sim 20 12,0 7,1-17,0
Não 34 20,4 14,3-26,6
Ignorado e branco 113 67,7 -
Fonte: Elaborado pelos os autores baseado Sistema de Informação de Agravos
de Noticação (Sinan) e Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc)
Nota:* I.C. 95% - Intervalo de conança, nível de 95%
Dentre os casos de noticação de sílis congênita percebe-se
que tanto o tratamento da gestante como o tratamento do
parceiro a variável ignorado e branco foram mais frequentes,
com 57,9% e 52,2% respectivamente, conforme Tabela 2.
Na análise bivariada nenhuma das variáveis estudas apre-
sentaram signicância estatística, conforme Tabela 2.
Tabela 2 - Tabela de contingência bivariada de casos sílis em
gestantes segundo variáveis sociodemográcos e clínico segundo
casos que decorreram em evolução para sílis congênita. Vitória de
Santo de Santo Antão. 2007-2017
Variáveis
Sílis congênita
OR
(I.C.95%)
ρ-valor
Sim Não
N % N %
91 54,49% 76 45,51%
Faixa etária materna
< 20 anos 32 51,6 30 48,4 0,83
0,567*
> 20 anos 59 56,2 46 43,8 (0,443-1,561)
Raça e cor
Branca e amarela 8 53,3 7 46,7
1,06
(0,36-3,36)
0,915*
Preta e parda 69 51,9 64 48,1
Ignorado e branco 14 73,7 5 26,3
Escolaridade
< 8 anos de estudo 46 60,5 30 39,5
0,67
(0,30-1,55)
0,350*> 8 anos de estudo 18 54,5 15 45,5
Ignorado e branco 27 46,6 31 53,4
Consultas pré-natal
< 7 consultas 30 50,8 29 49,2
1,28
(0,55-2,92)
0,620*> 7 consultas 30 45,5 36 54,5
Ignorado e branco 31 73,8 11 26,2
Idade gestacional de detecção
1º trimestre 25 64,1 14 35,9 2,27 (0,96-5,37)
0,059*
2º trimestre 22 44,0 28 56,0 2,00 (0,88-4,65)
0,090*
3º trimestre 30 46,9 34 53,1 0,89 (0,41-1,88) 0,760*
Ignorado 14 100,0 0 0 - -
Estágio da evolução clínica
Primária 26 59,1 18 40,9
0,50
(0,16-1,54)
0,288**Outras formas 17 73,9 6 26,1
Ignorado e branco 48 48,5 51 51,5
Realização de tratamento da gestante
Sim 43 50,6 42 49,4
0,52
(0,06-3,06)
0,678**Não 4 66,7 2 33,3
Ignorado 44 57,9 32 42,1
Realização de tratamento do parceiro
Sim 11 55,0 9 45,0
0,76
(0,24-2,39)
0,628*Não 21 61,8 13 38,2
Ignorado e branco 59 52,2 54 47,8
Fonte: Elaborado pelos os autores baseado Sistema de Informação de Agravos
de Noticação (Sinan) e Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc)
5
ASAA
Santos OL, Alves RSM, Santos ERR, Leite AFB
Associação de fatores de risco entre sífilis em gestante e congênita: estudo observacional retrospectivo
Nota: *Testes de qui-quadrado de independência condicional de Man-
tel-Haenszel
** Testes de qui-quadrado exato de Fisher
Para o cálculo de odds ratio (OR), não se levou em consideração ignorados
e branco.
Discussão
Os resultados deste estudo foram condizentes, em sua maio-
ria, com achados na literatura e assim contribuíram para
análise da associação entre casos de sílis gestantes e sílis
congênita.
Ao analisar os fatores sociodemográcos de associação para
a ocorrência da sílis congênita, pode ser observado a faixa
etária materna maior de 20 anos, a raça/cor preta e parda
e a escolaridade menor que 8 anos de estudos são predomi-
nantes. Esta situação corrobora com uma pesquisa realizada
no Brasil, que demostrou que os três fatores socioeconômicos
associados por si determinam enfaticamente uma das
condições pré-dispostas de exposição ao
Treponema pallid-
ium
das mulheres diagnosticadas com sílis.
12,13
O que pode
estar associado a diculdade de realização da educação
em saúde com a população, a prática da prevenção das
Infecções Sexualmente Transmissíveis e a desigualdade do
acesso aos serviços de saúde.
14
Mostra-se neste estudo que o número de consultas de pré-na-
tal realizadas apresentou-se em que 50,8% dos casos com
frequência menor que 7 consultas, sendo condizente com os
achados nas pesquisas realizadas. Reetindo que, o aces-
so ao pré-natal pode não ser considerado como garantia
ao diagnóstico precoce da sílis, o que é de fundamental
importância na prevenção da transmissão vertical, prematu-
ridade e baixo peso ao nascer, condições essas que elevam
o risco da mortalidade perinatal em uma população.
15
A realização de diagnóstico precoce da sílis em gestante
possibilita um aumento de chances da realização de um
tratamento adequado e efetivo. O Ministério da Saúde pre-
coniza que sejam realizados um exame de VDRL no primeiro
trimestre e outro no terceiro trimestre de gestação.
1
O estudo
mostra que o diagnóstico de detecção da sílis em gestante
do Município da Vitória de Santo Antão aconteceu para
cerca de 46,9% dos casos no terceiro trimestre da gestação,
sendo perceptível a diculdade de adesão aos protocolos
por parte dos prossionais de saúde do Município e o maior
risco para desenvolvimento de desfechos adversos para os
casos.
12,16
A realização de tratamento para sílis durante a
gestação que decorreu para sílis congênita foi realizada em
50,6% dos casos em gestante e 55,0% dos parceiros, esses
achados são condizentes com a literatura, principalmente
quando analisados os números de casos com essa variável
como ignorado ou branco, 57,9% e 52,2% respectivamente.
Em estudo prévio, foi concluído que a ausência de tratamento
nas gestantes/parceiros e a ausência de informações con-
tribuem na fragilidade da capacidade que os serviços de
saúde têm em planejar ações de enfrentamento a Sílis, o
que contribui no aumento da reinfecção das gestantes pelo
Treponema pallidum
.
12,13
O que demostra a necessidade de
fortalecimento da linha de cuidado do pré-natal da gestante
e do parceiro.
Conclusão
Os resultados revelam fragilidades nas ações de prevenção
e enfrentamento a sílis no Município da Vitória de Santo
Antão, apesar de que na análise univariada nenhuma das
variáveis estudadas apresentaram signicância.
Considera-se como limitação do estudo a quantidade de
dados ignorados/brancos nas chas de noticação. O que
ressalta a importância de realização de sensibilização dos
prossionais de saúde do Município quanto a qualidade
dos registros referentes ao acompanhamento das gestantes
durante as consultas de pré-natal.
Tornou-se perceptível a importância da Atenção Básica como
executora das ações de prevenção e assistência aos casos
de sílis em gestante, principalmente no que se refere a real-
ização do diagnóstico, da noticação qualicada, na prática
de busca ativa dos parceiros, no acompanhamento dos casos
e realização de educação em saúde com a população.
É preciso fortalecer a organização dos serviços de saúde
e assistência prestada por meio do aumento do acesso ao
pré-natal, realização de captação precoce das gestantes,
garantia de oferta de exames preconizados, tratamento
adequado, realização do pré-natal do parceiro e educação
permanente com os prossionais de saúde a partir de estraté-
gias de enfrentamento que objetivam a redução dos casos de
sílis em gestante e consequentemente de sílis congênita.
Conflito de interesse: Nada a declarar
Contribuição de cada autor: Osvaldo Leite Santos escreveu
e organizou o artigo; Antonio Flaudiano Bem Leite e Ruanna
Sandrelly de Miranda Alves, orientou o desenhou de estudo,
realizou as organizações dos dados e análises; Erlene Ro-
berta Ribeiro dos Santos revisou e contribuiu na elaboração
do texto Todos os autores interpretaram os dados, além de
escrever e revisar o manuscrito. A versão nal foi aprovada
por todos os autores
6
ASAA
Santos OL, Alves RSM, Santos ERR, Leite AFB
Associação de fatores de risco entre sífilis em gestante e congênita: estudo observacional retrospectivo
Osvaldo Leite Santos
https://orcid.org/0000-0003-2984-287X
Ruanna Sandrelly de Miranda Alves
https://orcid.org/0000-0002-2786-3207
Erlene Roberta Ribeiro dos Santos
https://orcid.org/0000-0003-3334-3408
Antonio Flaudiano Bem Leite
https://orcid.org/0000-0003-0211-6608
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2011;20(2):213-222 Doi:10.5123/
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e congênita em Palmas, Tocantins, 2007-2014*.
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