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ASAA
Silva GHBS,Brito LKD, Leal MEC, Fernandes HA, Maia IOA
Síndrome de Weil com sangramento vaginal: um relato de caso
Introdução
A
leptospirose é uma zoonose subnoticada com impor-
tante prevalência mundial. Segundo dados da OMS,
estimam-se 873 mil casos no mundo e 48.600 mortes anu-
ais. No Brasil, ocorre durante todos os meses do ano, com
grande importância econômica e social, dada a elevada
taxa de internação e de dias de trabalho perdidos. A inci-
dência anual no país é de aproximadamente 1,9/100.000
habitantes, havendo surtos relacionados a desastres am-
bientais.
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Os principais reservatórios para a
Leptospira
, bactéria
helicoidal móvel, na região urbana são os roedores e na
zona rural os bovinos, suínos, ovinos e principalmente equi-
nos. A transmissão se dá pelo contato com a urina destes
animais ou pela exposição à água, solo ou tecido animal
contaminados. O microrganismo penetra através de lesões
dermatológicas ou quando há imersão por longo tempo da
pele íntegra ou mucosa em água/lamas contaminadas.
2-5
A
bactéria é resistente aos fatores bactericidas do sistema
imune, o que permite sua disseminação hematogênica e
alta virulência, podendo atingir órgãos vitais.
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A infecção tem uma incubação que varia 1 a 30 dias e é
responsável por um espectro de doença muito amplo, desde
quadros subclínicos/assintomáticos (85-95%) e autolimita-
dos com sintomas como febre de início abrupto, calafrios,
mialgia e cefaleia, até quadros fatais (5-15%), como a
Síndrome de Weil (SW).
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O diagnóstico é feito a partir de dados epidemiológicos e
das manifestações clínicas, sendo conrmado por achados
laboratoriais (testes sorológicos, moleculares ou cultura).
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A antibioticoterapia deve ser instituída em qualquer fase da
doença, mas é mais ecaz quando usada precocemente.
Na fase precoce, as opções são doxiciclina ou amoxici-
lina, já na tardia, penicilina G cristalina, ampicilina ou
ceftriaxona.
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Objetiva-se neste trabalho relatar um caso de leptospirose
com as manifestações da SW e quadro hemorrágico inco-
mum, o sangramento vaginal.
Relato de Caso
Paciente mulher, negra, 51 anos, procedente de Caruaru,
procurou atendimento em Unidade de Pronto Atendimento
com queixa de febre e dor em membros inferiores (MMII),
de início há 7 dias. Apresentava sangramento vaginal de
moderada intensidade e negava história de dor abdominal,
vômitos e diarreia. Ao exame, apresentava icterícia (1+/4+)
e ausência de dor à palpação abdominal. Os resultados
dos exames laboratoriais evidenciaram: Hemoglobina: 12;
Leucócitos: 13.600; Segmentados: 83,2; Plaquetas: 55.000.
Foi transferida para um hospital terciário, onde evoluiu com
piora do quadro álgico em MMII e colúria. Sem anteced-
entes médicos pregressos. Histórico de uso de anticoncep-
cional oral combinado há 27 anos, sendo interrompido 6
dias antes do internamento. Possuía epidemiologia positiva
para leptospirose, por contato com água de enchente há
cerca de 25 dias da admissão.
Ao exame físico, apresentava-se hipocorada (1+/4+) e
ictérica (1+/4+), sem novos episódios febris. Aparelho respi-
ratório, cardiovascular e abdominal sem alterações. Do
ponto de vista laboratorial, vericou-se: Hemoglobina 10,2;
Leucócitos 11040; Segmentados 79; Ureia 156; Creatinina
3,5; Bilirrubina total 7,9 (direta 7,9 e indireta 0); Amilase
421; Lipase 2066; PCR: 184,16; Sódio 131; Potássio 3,11;
Sorologia leptospirose: IgM (+).
A ultrassonograa abdominal e endovaginal não mostraram
alterações. Com a conrmação diagnóstica, foi iniciada
antibioticoterapia com ceftriaxona 2g, IV, 24/24H e insti-
tuídas medidas de suporte para tratamento de pancreatite
secundária à leptospirose. Foi solicitada uma tomograa
computadorizada (TC) de abdome que trouxe achados
dentro da normalidade. Após 14 dias de internamento,
recebeu alta hospitalar estável, sem queixas e com melhora
do quadro infeccioso.
Discussão
O relato mostrou uma paciente que teve contato com água
de enchente e 25 dias depois apresentou queixa de febre e
dor em membros inferiores, além de icterícia e sangramento
vaginal de moderada quantidade. A principal hipótese
diagnóstica foi de leptospirose devido à epidemiologia
positiva, e foi conrmada com a sorologia.
As manifestações clínicas são divididas em duas fases. A
precoce manifesta-se por febre súbita, calafrios, mialgia, an-
orexia, cefaleia, náuseas e vômitos, com menos frequência
há artralgia, exantema, oftalmopatias, diarreia, hepatoesple-
nomegalia e linfadenomegalia. Dura de dois a nove dias,
regredindo espontaneamente, o que leva a subdiagnóstico
pela semelhança com um quadro viral.
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