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ASAA
Azevedo Filho HRC
O Exame Para Fellow of the Royal College of Surgeons of Edinburgh
pelos outros
Colleges
uma vez que até então a obtenção
do Fellowship era na área de cirurgia como um todo.
Acredito que essa ideia inovadora se deveu à ação
do Professor F. John Gillingham, então presidente do
College
, recentemente aposentado como professor de
neurocirurgia da Universidade de Edimburgo e sucessor
do Professor Norman Dott, antigo discípulo de Harvey
Cushing. É dever mencionar que o Professor Gillingham
viria a ser eleito Presidente Honorário da WFNS durante
o Congresso Mundial de Neurocirurgia realizado em
Toronto em 1985.
Como pré-requisito o candidato, nativo ou estrangeiro,
deveria ter feito treinamento no Reino Unido ou na Irlan-
da e uma vez aprovado teria o seu diploma de neuroci-
rurgião reconhecido naqueles países, podendo exercer
integralmente a especialidade e aplicar consequente-
mente para postos de consultantes no sistema nacional
de saúde como também para postos acadêmicos nas
universidades. Logrando ser aprovado, e já tendo o título
acadêmico pela Universidade de Oxford, era provável
que eu viesse a conseguir denitivamente um emprego
de neurocirurgião nas Ilhas Britânicas. Confesso que o
meu desejo era conseguir tal posto em Oxford e assim
retornando para onde eu ainda considerava a minha
casa neurocirúrgica.
Como mencionado anteriormente, o Presidente do Colé-
gio de Edimburgo era o Professor Gillingham, ressalte-se
que o famoso professor era extremamente elegante no
falar e no trajar, cortês e generoso para com os jovens
neurocirurgiões. Ademais, devo dizer que foi um árduo
esforço ser considerado apto para ser admitido no cita-
do exame. Tive de coletar todos os documentos desde
o curso de graduação, cópia do diploma de médico e
os referentes aos anos que zera em Recife, sem falar
que era obrigatória tradução juramentada de toda a
documentação.
Finalmente, em ns de 1982, recebi uma carta do Pro-
fessor dizendo que eu fora aceito para ser examinado
e que o mesmo teria lugar em setembro de 1983. O
exame era dividido em dois dias, sessão de seis horas no
primeiro e cinco no segundo, em 18 e 19 de setembro
respectivamente. Recordo-me muito bem, visto que 19 era
o dia do aniversário do meu saudoso pai.
Para isso, eu precisava me preparar bastante, rever as
ciências básicas tais como anatomia, siologia, bioquími-
ca, farmacologia e anatomia patológica. Era imperioso
parar de trabalhar e ainda hoje não sei como eu pude
arcar nanceiramente com tais despesas, pois naquele
ano já tínhamos três lhas.
Juntei o que pude, vendi umas cabeças de gado que
tinha na fazenda dos meus pais e avós, e em início de
julho fomos eu e Alita (minha esposa) para Oxford onde
alugamos um pequeno apartamento da universidade
para que eu pudesse estudar diuturna e adequadamente.
Obviamente, passava parte dos dias úteis acompanhan-
do as atividades rotineiras do meu antigo serviço, assistia
ás cirurgias do ‘Chefe’ e frequentava assiduamente a
biblioteca.
Uma semana antes do exame, alugamos um pequeno
carro e zarpamos para Edimburgo. O sempre lembrado
Professor Douglas Miller, que havia substituído na cáte-
dra e na chea do serviço o Professor Gillingham, tinha
certa afeição por mim mercê eu ter frequentado nos anos
anteriores alguns cursos do Conselho Britânico naquela
cidade e muito gentilmente conseguiu que cássemos em
um alojamento universitário porque ainda era época das
férias acadêmicas. Lembro que o alojamento era extrema-
mente frio, o banheiro mais ainda e para aumentar o des-
conforto cava algo distante do nosso quarto. Segundo
o costume britânico, o frio se explicava em razão de ser
ainda verão e por via de consequência o aquecimento
do edifício deveria permanecer desligado.
Como referi acima, apesar de ser verão, Edimburgo
embora bastante bonita e clássica, com seus majestosos
prédios góticos e tendo o castelo no alto do morro como
testemunha de centenas de anos de guerras, massacres,
assassinatos e destituição de monarcas, apresentava-se
como sempre fria, chuvosa, cinzenta e o vento cortava a
alma quando se atravessava uma daquelas pontes que
passam sobre o vale.
O
Royal College of Surgeons of Edinburgh
, localizado
na
Nicolson Street
, continuação da
North Bridge
, é
uma edicação imponente, até certo ponto sombria e
impressiona pela majestade das suas colunas e da sua
arquitetura, reetindo e guardando mais de quatro sé-
culos de história da cirurgia. O primeiro dia do exame
teria lugar na
Western General Inrmary
e o
College
abrigaria o segundo e último dia do exame. Fiquei exta-
siado ao adentrar naquele cenáculo sagrado da cirurgia
mundial, depositário do passado glorioso da medicina
desde que houvera sido fundado em 1505, no entanto
o prédio atual projetado por William Playfair, o mais
famoso arquiteto escocês da época, só fora inaugurado
em 1832. Com profundo respeito e admiração vislumbrei
os retratos pintados a óleo de ex-presidentes e antigos
fellows
como Charles Bell, John Barclay, Joseph Lister e os
Monros. Eu tinha sido aconselhado visitar o museu e apre-
ciar as centenas de peças anatômicas ali colecionadas,
porque algumas poderiam fazer parte do exame. Perdi
meu tempo, nenhuma delas foi utilizada.
A primeira fase do exame como mencionei teve lugar
nas enfermarias de neurocirurgia da
Western General
Inrmary
, departamento então dirigido pelo Professor
Douglas Miller. O tempo total era de seis horas divididas
em várias sessões em que examinávamos os pacientes,
discutíamos os casos com os examinadores que nos
faziam perguntas sobre achados clínicos, radiológicos
e condutas. Eram 10 os examinadores, recordo-me de
alguns, lembro bem do Professor Gillingham, sempre
gentil e educado para com aqueles oito jovens com faces
de apavorados. Douglas Miller era prático e objetivo,
sempre ligado em problemas correlacionados com o
trauma, com a metabologia cerebral, com a hipertensão
intracraniana e com o uxo sanguíneo cerebral. Philip