2021, 3(2):38-41 e-ISSN: 2674-7103
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DOI: 10.37085/jmmv3.n2.2021.pp.38-41
Jornal Memorial
da
Medicina
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História da Medicina
O Exame Para
Fellow of the Royal College of Surgeons of Edinburgh
Hildo Rocha Cirne de Azevedo Filho
Universidade de Pernambuco, Pernambuco, Brasil
Eu havia retornado da Inglaterra onde havia realizado meu treinamento na famosa
The Radcliffe
Inrmary
da Universidade de Oxford. O meu mentor foi Mr. Christopher Adams, neurocirur-
gião dotado de rara maestria e com um profundo conhecimento de neurologia clínica, visto
que houvera feito dois anos de treinamento no Serviço de Neurologia do renomado
National
Hospital for Nervous Diseases
, popularmente conhecido como
The Queens’ Square
. Adams
teve como mestres Murray Falconer and Joe Pennybacher. É bom que se diga que naquele
país, segundo a tradição, todo cirurgião é chamado de
Mister
apenas substituído quando se
alcança o título de Professor, enquanto o
Doctor
é reservado para os clínicos.
Durante meu período em Oxford, além de terminar a minha formação, eu me vinculei a um
projeto de pesquisa clínica que ensejou posteriormente a elaboração de uma tese intitulada
Clinical Applications of Intracranial Pressure Monitoring
que apresentei para obter o grau de
Master of Science in Neurosurgery
. No trabalho, a pressão intracraniana (PIC) era monitorizada
no pós-operatório de cirurgias para clipagem de aneurismas intracranianos rotos e uma vez
controlando a PIC se almejava reduzir os efeitos deletérios do vasospasmo cerebral, os quais
em última instância são a isquemia, o edema e a hipertensão intracraniana. Na ocasião, com-
parei esse grupo com os resultados de uma série histórica e o grupo prospectivo apresentou
resultados signicantes melhores.
Dessa forma, portando um título universitário, faltava-me uma acreditação prossional, tipo
revalidação da minha condição de neurocirurgião no Reino Unido, visto que eu vislumbrava
me estabelecer do ponto de vista prossional denitivamente naquele país.
Todavia, isso não passava de um sonho porquanto a revalidação em lide signicava a aprova-
ção em várias provas que incluíam todas as especialidades cirúrgicas e que levaria à obtenção
do grau de
Fellow
de um dos vários Colégios de Cirurgiões. Não havia um exame especíco
para neurocirurgia como, por exemplo, temos no nosso país quando nos apresentamos para
a obtenção do título de especialista.
Dessa maneira, voltando ao Brasil em 1977, comecei a tentar montar um serviço no Hospital da
Restauração do Recife nos moldes daquele que eu fora treinado em Oxford. Porém, as diculda-
des materiais e de estrutura eram enormes e, além disso, eu me defrontava com a má vontade
originada de neurocirurgiões mais antigos que não viam com bons olhos o aparecimento de
novos concorrentes. Apesar do hercúleo esforço desprendido, eu não estava satisfeito com o
que estava conseguindo. Fortuitamente, em 1981, eu li na literatura neurocirúrgica britânica
que, mudando todos os paradigmas anteriores e atuando de forma pioneira, o
Royal College
of Surgeons of Edinburgh
estava iniciando um novel esquema de exames para qualicar espe-
cicamente neurocirurgiões. Foi uma inusitada quebra da tradição, a princípio mal recebida
azevedoh@uol.com.br
Editado por
Juliana Ramos Andrade
Enviado: 30 de novembro de 2019
Publicado: 1 de dezembro de 2021
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Azevedo Filho HRC
O Exame Para Fellow of the Royal College of Surgeons of Edinburgh
pelos outros
Colleges
uma vez que até então a obtenção
do Fellowship era na área de cirurgia como um todo.
Acredito que essa ideia inovadora se deveu à ação
do Professor F. John Gillingham, então presidente do
College
, recentemente aposentado como professor de
neurocirurgia da Universidade de Edimburgo e sucessor
do Professor Norman Dott, antigo discípulo de Harvey
Cushing. É dever mencionar que o Professor Gillingham
viria a ser eleito Presidente Honorário da WFNS durante
o Congresso Mundial de Neurocirurgia realizado em
Toronto em 1985.
Como pré-requisito o candidato, nativo ou estrangeiro,
deveria ter feito treinamento no Reino Unido ou na Irlan-
da e uma vez aprovado teria o seu diploma de neuroci-
rurgião reconhecido naqueles países, podendo exercer
integralmente a especialidade e aplicar consequente-
mente para postos de consultantes no sistema nacional
de saúde como também para postos acadêmicos nas
universidades. Logrando ser aprovado, e já tendo o título
acadêmico pela Universidade de Oxford, era provável
que eu viesse a conseguir denitivamente um emprego
de neurocirurgião nas Ilhas Britânicas. Confesso que o
meu desejo era conseguir tal posto em Oxford e assim
retornando para onde eu ainda considerava a minha
casa neurocirúrgica.
Como mencionado anteriormente, o Presidente do Colé-
gio de Edimburgo era o Professor Gillingham, ressalte-se
que o famoso professor era extremamente elegante no
falar e no trajar, cortês e generoso para com os jovens
neurocirurgiões. Ademais, devo dizer que foi um árduo
esforço ser considerado apto para ser admitido no cita-
do exame. Tive de coletar todos os documentos desde
o curso de graduação, cópia do diploma de médico e
os referentes aos anos que zera em Recife, sem falar
que era obrigatória tradução juramentada de toda a
documentação.
Finalmente, em ns de 1982, recebi uma carta do Pro-
fessor dizendo que eu fora aceito para ser examinado
e que o mesmo teria lugar em setembro de 1983. O
exame era dividido em dois dias, sessão de seis horas no
primeiro e cinco no segundo, em 18 e 19 de setembro
respectivamente. Recordo-me muito bem, visto que 19 era
o dia do aniversário do meu saudoso pai.
Para isso, eu precisava me preparar bastante, rever as
ciências básicas tais como anatomia, siologia, bioquími-
ca, farmacologia e anatomia patológica. Era imperioso
parar de trabalhar e ainda hoje não sei como eu pude
arcar nanceiramente com tais despesas, pois naquele
ano já tínhamos três lhas.
Juntei o que pude, vendi umas cabeças de gado que
tinha na fazenda dos meus pais e avós, e em início de
julho fomos eu e Alita (minha esposa) para Oxford onde
alugamos um pequeno apartamento da universidade
para que eu pudesse estudar diuturna e adequadamente.
Obviamente, passava parte dos dias úteis acompanhan-
do as atividades rotineiras do meu antigo serviço, assistia
ás cirurgias do ‘Chefe’ e frequentava assiduamente a
biblioteca.
Uma semana antes do exame, alugamos um pequeno
carro e zarpamos para Edimburgo. O sempre lembrado
Professor Douglas Miller, que havia substituído na cáte-
dra e na chea do serviço o Professor Gillingham, tinha
certa afeição por mim mercê eu ter frequentado nos anos
anteriores alguns cursos do Conselho Britânico naquela
cidade e muito gentilmente conseguiu que cássemos em
um alojamento universitário porque ainda era época das
férias acadêmicas. Lembro que o alojamento era extrema-
mente frio, o banheiro mais ainda e para aumentar o des-
conforto cava algo distante do nosso quarto. Segundo
o costume britânico, o frio se explicava em razão de ser
ainda verão e por via de consequência o aquecimento
do edifício deveria permanecer desligado.
Como referi acima, apesar de ser verão, Edimburgo
embora bastante bonita e clássica, com seus majestosos
prédios góticos e tendo o castelo no alto do morro como
testemunha de centenas de anos de guerras, massacres,
assassinatos e destituição de monarcas, apresentava-se
como sempre fria, chuvosa, cinzenta e o vento cortava a
alma quando se atravessava uma daquelas pontes que
passam sobre o vale.
O
Royal College of Surgeons of Edinburgh
, localizado
na
Nicolson Street
, continuação da
North Bridge
, é
uma edicação imponente, até certo ponto sombria e
impressiona pela majestade das suas colunas e da sua
arquitetura, reetindo e guardando mais de quatro -
culos de história da cirurgia. O primeiro dia do exame
teria lugar na
Western General Inrmary
e o
College
abrigaria o segundo e último dia do exame. Fiquei exta-
siado ao adentrar naquele cenáculo sagrado da cirurgia
mundial, depositário do passado glorioso da medicina
desde que houvera sido fundado em 1505, no entanto
o prédio atual projetado por William Playfair, o mais
famoso arquiteto escocês da época, fora inaugurado
em 1832. Com profundo respeito e admiração vislumbrei
os retratos pintados a óleo de ex-presidentes e antigos
fellows
como Charles Bell, John Barclay, Joseph Lister e os
Monros. Eu tinha sido aconselhado visitar o museu e apre-
ciar as centenas de peças anatômicas ali colecionadas,
porque algumas poderiam fazer parte do exame. Perdi
meu tempo, nenhuma delas foi utilizada.
A primeira fase do exame como mencionei teve lugar
nas enfermarias de neurocirurgia da
Western General
Inrmary
, departamento então dirigido pelo Professor
Douglas Miller. O tempo total era de seis horas divididas
em várias sessões em que examinávamos os pacientes,
discutíamos os casos com os examinadores que nos
faziam perguntas sobre achados clínicos, radiológicos
e condutas. Eram 10 os examinadores, recordo-me de
alguns, lembro bem do Professor Gillingham, sempre
gentil e educado para com aqueles oito jovens com faces
de apavorados. Douglas Miller era prático e objetivo,
sempre ligado em problemas correlacionados com o
trauma, com a metabologia cerebral, com a hipertensão
intracraniana e com o uxo sanguíneo cerebral. Philip
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O Exame Para Fellow of the Royal College of Surgeons of Edinburgh
Harris se interessava pelas afecções da coluna vertebral
e para ele foram reservados os casos de patologia cer-
vical. Parecia sempre mal- humorado, pletórico e como
se estivesse tendo uma crise hipertensiva.
John Gareld viera de Southampton, parecia ácido com
perguntas complexas e de difícil resposta. No meio da
sua inquisição me perguntou onde eu houvera sido trei-
nado e quem era o meu mentor. Quando respondi que
tinha sido Chris Adams em Oxford, ele fechou a cara
e se tornou mais difícil ainda. Nessa ocasião temi pelo
meu destino. Depois eu soube que ele e Adams não
tinham a melhor das relações.
Tive a alegria de ser examinado por Huw Grifth, então
chefe do serviço em Bristol, um dos neurocirurgiões mais
brilhantes que conheci e que infelizmente morreu aos
63 anos de uma doença neoplásica fulminantemente
agressiva, tendo a sua partida precoce feito muita falta
à neurocirurgia britânica. As perguntas de Huw eram
inteligentes e faziam você se sentir como se estivesse
discutindo um caso na enfermaria e não participando
de um exame tão importante, no qual o resultado nal
era simplesmente, sim ou não.
O Professor Bryan Jennett viera de Glasgow, brilhante
clínico e detentor de uma exuberante cultura neurológica
e neurocirúrgica. Ele obtivera parte do seu treinamento
em Oxford, sob a direção de Joe Pennybacher. Todavia,
Jennett era um neurocirurgião reconhecidamente conser-
vador que às vezes parecia mais apreciar a manipulação
dos números e dados estatísticos relativos aos trauma-
tismos crânio-encefálicos do que enfrentar as longas e
penosas horas nas salas cirúrgicas. Durante a sua argui-
ção comigo aconteceu um fato interessante, foi sorteado
para que eu examinasse uma moça jovem, nos seus
30 anos, com severa e incapacitante lombociatalgia,
sobretudo aos esforços e rebelde ao tratamento conser-
vador. Havia um sinal de Lasègue baixo, apresentava
o reexo aquileu abolido e décit sensitivo no território
de S1. Enm, um quadro clássico de uma hérnia discal
lombar, conrmado pela mielograa visto que não havia
ressonância magnética naquela época. Após analisar
todos os detalhes do caso recomendei tratamento ci-
rúrgico. O Professor conservadoramente retrucou: ‘mas
você vai operar uma
PE
?’ O que será PE pensei eu.
Naquele momento, eu já não podia consultar o prontu-
ário da paciente para saber que acrônimo seria esse.
Novamente, Jennett enfatizou: operar uma PE? David
Mendelow, à época senior
lecturer
em Edimburgo, antes
de ser professor em Newcastle, assistindo o exame por
detrás do professor me forneceu a valiosa informação:
PE is
physical
educator
, ou seja, professora de educação
física. Nesse momento, tentei contornar dizendo: sendo
uma
PE
vamos dar um pouco mais de tempo com o
tratamento conservador para ver se evitamos a cirurgia.
Acho que consegui me safar! O segundo paciente com o
Professor Jennett foi uma paciente do sexo feminino com
um aneurisma paralítico da comunicante posterior, que já
fora operada, estava bem e o exame neurológico apenas
demonstrava a paralisia completa do 3° nervo que já
estava presente no pré-operatório, fato que ensejara o
seu internamento. Pergunta do professor: você acha que
ela vai recuperar completamente os movimentos desse
olho? Com a certeza peculiar àqueles ainda sem muita
experiência eu respondi: em 90 dias ela estará totalmente
normal com todos os movimentos oculares recuperados.
Retrucou então o sábio professor, ‘teste sempre o olhar
vertical para cima, ele nunca retorna’. E disse ainda,
em provas também se aprende’! Fantástica informação,
ao longo de todos esses anos eu só presenciei uma vez
em casos semelhantes que o olhar vertical para cima
houvesse retornado total ou parcialmente.
O segundo dia do exame teve lugar no prédio do
Col-
lege
, mais precisamente nas enormes dependências do
museu que naquele dia parecia mais sombrio e assusta-
dor do que a impressão que sentira quando o visitara
alguns dias antes.
A prova constava de cinco etapas de 60 minutos com
dois examinadores por cada bloco, tendo o tempo rigi-
damente controlado por um relógio que preguiçosa e
lentamente teimava em não atingir o tempo estipulado no
regulamento. Os blocos constavam dos seguintes temas:
neuroanatomia, neurosiologia e neurofarmacologia,
neuroanatomia patológica, discussão sobre entidades no-
sológicas e técnicas cirúrgicas, e por m tratamento não
cirúrgico das patologias neurocirúrgicas.
A prova de neuroanatomia transcorreu sem maiores
problemas com a análise de várias peças anatômicas
colocadas em cima de uma mesa, com ênfase à subs-
tância branca e perguntas ligadas a acessos e condu-
tas.
Contudo, a prova de neurosiologia e neurofarmacolo-
gia foi extremamente dura e difícil. Os examinadores
eram os Professores Edward Hitchcock e John Hankinson,
ambos profundos conhecedores dos temas em lide visto
que eram experts na neurocirurgia funcional. Hitchcock
houvera feito parte do seu treinamento em Oxford e em
Londres, antes de ser
senior lecturer
em Edimburgo, tendo
posteriormente alcançado o honroso título de professor de
neurocirurgia em Birmingham. Hankinson era professor
de neurocirurgia em Newcastle e nunca me esqueço
do seu sorriso franco e da sua gravata borboleta que
gostava de usar com frequência. E as perguntas não
paravam, Hitchcock queria saber em profundidade o
funcionamento do sistema neuromuscular e se xou de-
moradamente sobre tudo que dizia respeito ao
muscle
spindle
e eu pensava: meu Deus, esse relógio não anda!
Felizmente, os 60 minutos se passaram e fui encaminhado
para outra dupla que iria me arguir na área de neuroa-
natomia patológica.
A prova constava de uma série de lâminas projetadas,
para que descrevêssemos os aspectos histológicos e
posteriormente emitíssemos o diagnóstico da patologia.
Em algumas ocasiões, dados clínicos do paciente eram
fornecidos o que obviamente ajudava na elaboração da
resposta. Guardo bem na memória um caso típico de
glioblastoma multiforme que diagnostiquei assim que o
slide foi apresentado, porém quei mais tempo do que
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O Exame Para Fellow of the Royal College of Surgeons of Edinburgh
deveria descrevendo pormenorizadamente as suas várias
nuances, pois tinha receio de não saber diagnosticar a
próxima lâmina a ser projetada. Nesse momento, um
dos examinadores disse sorrindo, provavelmente atento
que eu estava fazendo cera’: notamos que você reco-
nhece essa patologia, vamos passar para o outro slide.
Finalmente, mais 60 minutos se foram.
A quarta fase do exame foi tranquila e saí com a espe-
rança que houvera me saído bem.
A quinta e última versava sobre: condutas não cirúrgicas
das patologias neurocirúrgicas. Os examinadores eram
Huw Grifth de Bristol e um senhor anestesista de She-
feld, cujo nome não me recordo, o qual era chefe da
unidade de terapia intensiva, e que anos depois quei
sabedor que ele tinha cometido suicídio se enforcando
no dia de Natal. Huw Grifth tinha alguma consideração
e até simpatia pela minha pessoa, eu acredito, tanto é
que em 1987 me colocou como membro do primeiro
Editorial Board
do British Journal of Neurosurgery, por
ele idealizado e fundado naquele ano. Huw era o mentor
do melhor amigo que zera durante o meu treinamento
em Oxford e até hoje mantemos nossa amizade, Michael
Torrens, considerado seu possível sucessor em Bristol,
mas que abdicou e resolveu se mudar para Atenas em
virtude de ter se casado com uma neuroanestesista gre-
ga.
Pois bem, o anestesista gostava muito do tema monitori-
zação da pressão intracraniana. Então ele falou, vamos
começar discutindo monitorização da PIC. Grifth de
imediato retrucou, eu não permito que esse assunto
seja a ele perguntado uma vez que foi tema da sua
tese apresentada à Universidade de Oxford há sete
anos e como tal ele deve saber bastante do assunto.
Humildemente e com voz quase imperceptível eu ousei
falar:
this is not fair, Sir
. Todavia, mais que rapidamen-
te eu reorganizei minhas ideias e racionei que estava
aprovado. Se eu estivesse ameaçado de não passar no
exame, Huw certamente não cometeria essa injustiça de
me prejudicar, o que ele queria naquele momento era
saber mais da minha erudição e conhecimento. Com
efeito, 10 examinadores reunidos durante dois dias em
um hotel já deveriam quase que formado um consenso
de quem deveria ser reprovado ou não.
Terminadas as cinco horas de exame, exaustos, fomos
os oito encaminhados para a antessala do gabinete do
Presidente a m de ouvirmos o resultado a ser anuncia-
do pelo secretário do
College
, o qual apareceu trajado
com uma vestimenta quase medieval e graças a Deus
eu estava entre os três que haviam sido aprovados. Os
cinco reprovados quase que foram enxotados pela porta
lateral.
Adentramos então no impressionante gabinete do Presi-
dente, no caso o Professor Gillingham, que estava com
o majestoso e tradicional traje que os presidentes vêm
usando há mais de 200 anos, acompanhado pelos exa-
minadores e vários membros da diretoria. Tudo não durou
mais do que 10 minutos, foi nos oferecido um cálice de
sherry, o presidente nos parabenizou e informou que
a cerimônia ocial de entrega dos diplomas ocorreria
dois meses após em um jantar de gala. Infelizmente, por
diculdades nanceiras não pude voltar a Edimburgo
para esse evento ocial, tendo posteriormente recebido
o valioso diploma pelo correio, que guardo como uma
das mais importantes relíquias da minha carreira pro-
ssional.
Naquela noite, extremamente gelada, Alita e eu co-
memoramos a nossa vitória, bebendo uma quantidade
de vinho que nunca havíamos ingerido, com um lindo
jantar à luz de velas em uma dos melhores restaurantes
da High Street, cuja continuação leva ao Castelo, o qual
feericamente iluminado parecia mais bonito e imponente
do que nunca.
Com muita tranquilidade enfatizo que, avaliando poste-
riormente todos os aspectos, prevaleceu o bom senso, o
amor à família e ao meu Pernambuco, quando mesmo
obtendo o título e revalidando o diploma naquele país,
resolvi me instalar denitivamente no meu Recife, e como
tal ser protagonista do progresso da medicina e da
neurocirurgia na minha região.
Achei por bem relatar esse fato, tão importante para mim
e para a minha família, que mobilizou tantos sacrifícios
inclusive de ordem nanceira, não para o gáudio pes-
soal, mas prioritariamente para reconrmar o que certa
feita foi dito pelo Professor Euríclides de Jesus Zerbini:
‘NADA RESISTE AO TRABALHO’.